"Depois do Apocalipse de 2016 eu
reduzi ao mínimo minhas expectativas sobre a qualidade moral do Brasil, dos
seus políticos e dos brasileiros", diz Mara Telles, professora de
pós-graduação em ciência política na UFMG; "Minhas expectativas hoje são
mínimas: eu atualmente toparia voltar a acreditar num país qualquer se os
habitantes dele se indignassem com os mais de uma centena de pessoas
massacradas, decapitadas e degoladas em presídios com o mesmo furor com o qual
berraram contra uma mulher que Pedalava", afirma
12 DE
JANEIRO DE 2017 ÀS 08:01 // RECEBA O 247 NO
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Por Mara Telles, em
seu Facebook
Depois do Apocalipse de 2016 eu reduzi
ao mínimo minhas expectativas sobre a qualidade moral do Brasil, dos seus
políticos e dos brasileiros.
Eu passei a me importar menos e a me
estressar menos com as pequenas grandes fantasias noticiadas pelas imprensas.
Eu passei a dar de ombros aos vizinhos
que me veem todos os dias no elevador e nunca dão Bom Dia.
Eu deixei de estranhar que mesmo os
homens de esquerda não pagam pensão aos filhos e passei a não ver mais os
moradores que inundam as ruas.
Eu já nem ligo mais a News, que insiste
em fingir que não vê a economia destroçada.
E ao fim, eu deixei de acreditar que
qualquer coisa possa em breve mudar.
A gente vai se anestesiando para tentar
sobreviver e não morrer de angústia.
Minhas expectativas hoje são mínimas: eu
atualmente toparia voltar a acreditar num país qualquer se os habitantes dele
se indignassem com os mais de uma centena de pessoas massacradas, decapitadas e
degoladas em presídios com o mesmo furor com o qual berraram contra uma mulher
que Pedalava.
Um país em que seus habitantes se
indignassem furiosamente contra o genocídio de cidadãos da mesma maneira com
que se revoltaram contra a Copa e a Corrupção.
Mas, este povo indignado não existe e
aqueles que poderiam se indignar preferem postar gatinhos ou fazer selfies
bonitinhos em Passárgada, enquanto esperam o carnaval chegar.
Para sobreviver no Brasil é preciso mais que siso:
é preciso desistir do Brasil, é preciso acabar com qualquer expectativa
positiva, para se viver nele.
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